Após ser deixado para trás na escola durante um passeio dos colegas de classe ao cinema, o pequeno João Pedro, de 9 anos, que tem paralisia cerebral, ganhou de presente uma sessão do mesmo entretenimento na terça-feira, em um shopping da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Mas o que devia ser um momento de alegria acabou revelando outros problemas a Adriane Cruz, mãe do menino.
No entanto, durante o passeio a mãe percebeu que falta um trabalho da escola que facilite a criação de vínculos entre seu filho e os outros alunos. “Nenhum menino deu bom-dia para ele. Duas meninas chegaram perto da gente e agradeceram por terem ido ao cinema e uma delas disse que gosta de segurar a mão dele. Nesse comportamento, eu vi mais uma reação típica de mulher, um comportamento materno, aquele carinho que as meninas têm com uma bonequinha, de algo que veem e querem cuidar. Não vi vínculo de amigo”, comentou Adriane. “Ele não está tendo inclusão social. Ele estava no grupo, mas não pertence ao grupo e me doeu mais ainda. Eu estava feliz porque ele conseguiu ir, mas triste pela questão da inclusão”, diz a mãe de João Pedro.
Desde os 4 meses de vida João Pedro frequenta escolas públicas inclusivas e sempre houve problemas, resultando em trocas de unidade. A criança está na Escola Municipal Monsenhor João Rodrigues de Oliveira desde maio. Adriana Cruz precisou tirar o filho da escola anterior porque os colegas reclamavam que o menino gritava na sala de aula, o que prejudicava a aprendizagem deles. Mesmo com as dificuldades, ela diz que João Pedro era incluído na vida social das outras instituições, fazia amizade com outras crianças e tinha uma participação mais ativa. Ela cobra a intermediação dos monitores, auxiliares de apoio, professores e gestores das escolas que, segundo ela, não recebem capacitação adequada para atender alunos com deficiência. “Até técnicos que se sentem frustrados porque não sabem o que fazer”, afirma.
“Na vida social do João, eu sou o auxiliar de apoio dele e digo para as pessoas que podem tocá-lo, conversar com ele. João não responde com palavras, mas ele vai rir, fazer cara de que não gostou”, explica. Adriane conta que tenta evitar que as pessoas vejam o filho com dó. “Ele sabe que aqui é a casa dele, que está na rua, no cinema. Sabe que é o centro da atenção. O meu filho nada sozinho, sabe fazer coisas. Ele não consegue falar, mas sabe o que está acontecendo no entorno dele. Eu, sendo agente de inclusão dele, falo para as pessoas, e o professor, o técnico de apoio, é obrigado a fazer o mesmo, mas não é capacitado”, destaca.
No dia 19, representantes da Associação Mineira de Reabilitação (AMR) vão até a escola fazer o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) de João Pedro. O documento contém estratégias para o desenvolvimento do aluno com deficiência. Adriana diz que, desde o início da vida escolar do filho, já foram feitos nove documentos e nenhum foi aplicado.
A Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Belo Horizonte informou, por meio de nota, que a Diretoria da Educação Inclusiva e Diversidades determinou, após o fato ocorrido na Escola Municipal Monsenhor João Rodrigues de Oliveira, um levantamento das ações de inclusão da escola. “Representantes da Secretaria estão fazendo uma avaliação criteriosa e um diagnóstico de todos os procedimentos adotados pela unidade escolar”, afirma o texto. Caso sejam verificadas inconsistências no trabalho da unidade, o órgão afirma que as correções serão feitas.
A direção da escola informou que “o aluno participa de atividades específicas, que buscam promover o seu desenvolvimento e a sua integração com o restante da turma e que todas as atividades propostas para o estudante são formatadas em conjunto com profissionais do Atendimento Escolar Especializado (AEE).” Além disso, segundo a Secretaria, o aluno tem o acompanhamento de um monitor de apoio à inclusão durante todo o tempo que permanece no local.