No mesmo dia em que foram indiciados pela Polícia Federal por uso de informação privilegiada no mercado financeiro que rendeu US$ 100 milhões, os irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo J&F, sofreram nova derrota. Por 4 votos a 1, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não atendeu aos pedidos de liberdade feitos pela defesa dos executivos, presos em São Paulo desde a semana passada.
Vale ressaltar que o relator Sebastião Reis em seu voto reconheceu a desproporcionalidade da medida. Os advogados recorrerão ao STF. É injusta e lamentável a prisão preventiva de alguém que sempre esteve à disposição da Justiça, prestou depoimentos e apresentou todos os documentos requeridos”, afirma nota divulgada pela defesa dos irmãos Batista.
Segundo investigações da Polícia Federal, o uso privilegiado de informações no mercado financeiro por parte dos empresários teria ocorrido entre abril e 17 de maio deste ano, um dia antes de ser divulgado o acordo de colaboração premiada dos irmãos Batista com a PGR (Procuradoria Geral da República). A PF sustenta que Wesley e Joesley teriam vendido ações da JBS, empresa da J&F, e comprado dólares antes de ser divulgado o conteúdo da delação porque sabiam que, quando a delação viesse à tona, o mercado financeiro reagiria negativamente, as ações da JBS cairiam e o dólar subiria.
Com o jogo de mercado, os irmãos Joesley e Wesley Batista tiveram lucro, segundo a Procuradoria da República, em São Paulo. “O valor das operações, somente com os dólares, foi de quase US$ 3 bilhões, e causou um lucro aos irmãos Batista de mais de US$ 100 milhões, sendo esta praticamente a mesma quantia da multa prevista na delação no processo criminal (US$ 110 milhões).
No acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal, do Distrito Federal, o valor da multa acertada foi de R$ 10,3 bilhões”, informou a Procuradoria da República. Em outra tacada, a venda antecipada de ações permitiu que o grupo J&F deixasse de ter prejuízo de R$ 138 milhões, segundo o MPF.
Caso sejam condenados, os irmãos Batista podem pegar penas de um a cinco anos de reclusão e pagar multa de até três vezes o valor da vantagem ilícita obtida.
‘TENDÃO DE AQUILES’
A Polícia Federal indiciou Joesley e Wesley Batista na Operação Tendão de Aquiles. Os empresários são investigados pelo uso indevido de informações privilegiadas em transações no mercado financeiro. Joesley foi indiciado pela autoria dos crimes previstos nos artigos 27-C (manipulação de mercado) e 27-D (uso indevido de informação privilegiada), previstos na Lei 6.385/76, com a agravante prevista no artigo 61, II, “g”, do Código Penal (em razão do abuso de poder de controle e administração), em razão do evento de venda de ações da JBS S/A pela FB Participações, controladora desta última.
Wesley foi indiciado como autor do crime previsto no artigo 27-C da Lei 6.385/76 (manipulação de mercado) e como partícipe no crime de uso indevido de informação privilegiada praticado por Joesley, previsto 27-D da Lei 6.385/76 (uso indevido de informação privilegiada), com a agravante prevista no artigo 61, II, “G”, do Código Penal (em razão do abuso de poder de controle e administração), em relação aos eventos relativos à venda e compra de ações da JBS S/A.
Foi indiciado também como autor no crime previsto no artigo 27-D da Lei 6.385/76 (uso indevido de informação privilegiada), com a agravante prevista no artigo 61, II, “g”, do Código Penal (em razão do abuso de poder de controle e administração), em relação aos eventos relativos à compra de contratos futuros e contratos a termo de dólares.
A delação dos irmãos Batista fechada com a Procuradoria-Geral da República causou a maior crise politico do governo Temer, que ainda se arrasta. Por causa disso, a PGR denunciou o presidente por corrupção passiva e organização criminosa. O Planalto nega irregularidades.